quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O assassino de reputações

O algoz e sua vítima.
No mesmo dia em que fui surpreendido com a notícia de que a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva veio a óbito cerebral, recebo a notícia de que a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) indicou o nome de Sérgio Moro para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) após a morte de Teori Zavascki. O algoz de Marisa é realmente considerado por um grande número de pessoas como alguém competente para assumir o mais alto cargo da magistratura nacional. Moro pode não ter sido o responsável pela morte física de Marisa, mas ele tem sua parcela de culpa sim. Aliado aos veículos de comunicação que alimenta com suas denúncias e vazamentos, ele matou a reputação e a imagem pública dela. Colocada sob o estresse de ser ré num caso de corrupção envolvendo políticos e empresários — e ela nunca foi nenhum dos dois —, Marisa sucumbiu à pressão e foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) na semana passada.

Independente da minha opinião pessoal sobre Lula, eu duvido muito que Marisa operasse um esquema de corrupção na Petrobrás. Ela sempre foi uma figura caseira e discreta durante a presidência do marido. Nem mesmo a política de assistência social do governo, área tradicionalmente destinada pelos presidentes às suas esposas, teve o interesse em assumir. Suponhamos que Lula tenha sido de fato o maior ladrão da história do Brasil, como bradam esclarecidíssmos motoristas de táxi, comediantes fracassados e roqueiros decadentes. Se for o caso, que diabos Marisa tinha a ver com a corrupção do marido? No máximo seria sua cúmplice. A conclusão mais óbvia então é que Moro tornou Marisa ré para atingir Lula. Talvez como uma forma de pressioná-lo a confessar seus crimes. Só que ela teve morte cerebral decretada, evidenciando não só o fracasso da estratégia, como a imoralidade do modus operandi do juiz e de seus aliados no Ministério Público Federal (MPF).

O "herói" anti-corrupção de amplas parcelas da sociedade brasileira — que troca confidências a pé de ouvido com o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), notório rival político de Lula e acusado de desvio de verbas na construção da obra da Cidade Administrativa em Belo Horizonte — fez algo que nem mesmo a máfia ítalo-americana consideraria ético. Trata-se de uma violação do sétimo mandamento do código de conduta da máfia siciliana: "as esposas devem ser tratadas com respeito". De acordo com o testemunho de Pentito Antonino Calderone, ex-mafioso, há regras para não mexer com as esposas de outros mafiosos. Mas os brasileiros não só não percebem isso como ainda acham que os meios imorais justificam os fins supostamente moralizantes de seu mais novo herói. O quão perigoso é para a democracia brasileira que esteja sendo considerado para assumir uma vaga no STF um juiz que, para atingir seus objetivos, age de maneira que nem mesmo mafiosos agiriam?

Que me perdoem as pessoas que pediram para não transformarmos a morte cerebral de Marisa num ato político, mas eu preciso desabafar. Preciso muito traduzir minha indignação. Preciso dar nomes aos bois e dizer que Sérgio Moro e seus aliados acríticos no MPF e na imprensa são assassinos de reputações que tiveram sim sua parcela de culpa pelo suplício de Marisa Seus métodos duvidosos de investigação e obtenção de delações — que, repito, não seriam usados pela máfia — encurralam as pessoas que investigam de tal modo que elas literalmente morrem de estresse. Tudo isso precisa ser denunciado. Já que nossa democracia só afunda (segundo a própria Economist, que era a fonte preferida de dez em cada dez antipetistas durante os últimos anos do Governo Dilma) e temos um grupo de déspotas que se dizem "apolíticos", mas que cobram lisura apenas de um lado do espectro político, ditando os rumos de nosso país, cabe a nós, pessoas comuns, denunciar essa situação.

Eu não elegi Sérgio Moro para nada. Na verdade, ninguém elegeu, nem mesmo os entusiastas do "Morobloco". No entanto, quem paga o altíssimo salário dele, acima do teto constitucional, sou eu. E eu estou cansado de ver um juiz atuando como assassino de reputações de pessoas ligadas a um único grupo político. Às vezes com denúncias bem fundamentadas, o que é louvável, mas outras vezes não. A parcialidade do juiz rende-lhe prêmios das Organizações Globo e da moribunda revista Istoé, o que alimenta seu ego narcisístico, mas custa-lhe a sobriedade necessária para atuar na magistratura. Parafraseando Marisa num áudio vazado pelo juiz com o intuito único de prejudicá-la, visto que não havia relevância nenhuma no diálogo dela com o filho para as investigações que ele conduzia, que Moro "enfie no c*" todos esses prêmios e vire um juiz de verdade. Que combata a corrupção de todos os políticos e não só daqueles que lhe garantirá espaço na Veja. Que deixe de ser um assassino de reputações e vire o curandeiro de um país dividido entre os que têm corruptos de estimação à esquerda e aqueles que têm corruptos de estimação à direita.

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